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A CAÇADA (A.M. Ferreira)
Ontem, ao voltar para casa no lotação 614, não pude deixar de ouvir uma conversa entre mãe e filho que, apesar de corriqueira, me chamou a atenção:- Mãe, por que a senhora não foi ontem na igreja? indaga o menino.- Na igreja? estranha a mãe.Eu nunca poderia ir na igreja, meu filho, e sim à igreja. explica a mãe com um ar de deboche.- Ora, mamãe, a senhora entendeu, não entendeu?Então não complique.- Meu filho se diz "à igreja" e ponto final. define a mãe.É, eu sei, isso acontece todos os dias, e não há nada de mais. Mas não posso negar que o diálogo entre os dois me fez pensar na prioridade de um idioma de comunicar um fato ou ideia.Imaginem o nosso mundo à centenas de anos atrás, um homem primitivo tentando, por meios de gestos, explicar para a sua esposa que iria caçar, sabendo que demoraria dias fora de casa. Existia sempre um receio de uma falta de compreensão, o que resultaria em um grande problema quando o primata chegasse em casa uma semana depois.Olhando por esse lado não é difícil deduzir porque o homem inventou a língua, sons, desenhos e sinais que expressão ideias até chegar-mos nas palavras e frases que deixam a comunicação mais simples... simples?.. será?Vamos imaginar que o mesmo primata tivesse que explicar para a sua esposa que iria caçar, só que usando palavras assim como nós. Ao dizer:- Querida, vou à caça.Teria que ter cuidado para não dizer "vou na caça" ou ela pensaria que ele iria caçar montado em algum animal.A situação pioraria se ele tivesse que deixar um bilhete. Teria que escrever "Querida, vou à caça" sem esquecer o sinal de crase, pois temos uma super posição do "a" preposição exigida pelo verbo ir e o "a" artigo definido feminino que acompanha o substantivo caça; sem falarmos é claro no grave erro que ele jamais poderia cometer de escrever caça com "s" ao invés de "ç", ou alem fracassar ao se comunicar com sua esposa, ele ainda teria que explicar a ela em que casa esteve durante uma semana.Depois disso tudo se o primata soubesse que para explicar simplesmente que iria caçar daria tanto problema, ao invés de sair ele certamente ficaria em casa.
A ARCA de NOÉ
(Vinicius de Morais)
Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata
O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata
E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão"
Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não"
A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida
Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada
Pessoas especiais ficam pra sempre conosco e assim como palavras não podem definir uma pessoa.. também não podem definir um sentimento. Elas aparecem, se tornam parte da nossa vida e da nossa alma e seguem seu caminho. Nossos amigos não são “nosso” são pessoas do mundo e da vida. Entender e aceitar isso são os maiores desafios de um grande amor."Nossos Filhos não são nossos filhos, são filhos da ancia da vida por ela mesma. Somos apenas arcos na mão do grande arqueiro, sejamos bons arcos, que já nos é o bastante.""Dispõe o eterno Escriba e, havendo escrito, a folha vira.E não há ciência ou devoção que apague uma linha.E não há pranto sofrido que risque uma palavra.Ah, todo choro é vão!" - da Obra de Rubayat
MORENA
(A.M. Ferreira - dedicado a Heline Lins)
Silêncio, o mar sussurra histórias de amor.
Na praia meus versos quebrados ainda molham teus pés
E caminhas nas brumas como quem anda no céu
Rosa de Recife, Morena.
A poesia ainda está na praia. No pôr-do-sol,
na areia molhada, no barulho das ondas, nos teus
olhos, nos teus lábios e em tudo de mais perfeito
que Deus criou.
Mas a poesia morreu em mim. Meus versos quebraram
Como as ondas na praia. E não há tempo que traga
De volta as ondas.
Outras ondas virão mas não essa.
E eu que pouco sei do mar me lembro apenas
Do gosto salgado como lágrimas na praia.
Dos tons de verde e da tarde dourada
Dos olhos e cabelos do meu amor.